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Assimetria bariƓnica: Onde estƔ toda a antimatƩria do universo?

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Descobertas científicas podem não apenas melhorar nosso entendimento das leis fundamentais que regem a natureza, mas por vezes levam a mais questionamentos e dúvidas acerca do funcionamento do universo. Um exemplo foi a descoberta das antipartículas que ainda geram perguntas na cabeça dos cientistas ao redor do mundo.

    Basicamente, temos que toda partícula possui um parceiro que é muito parecido, porém tem cargas opostas. Por exemplo, o pósitron é a antipartícula do elétron, tendo exatamente a mesma massa, porém com carga elétrica positiva.

Ā Ā  Ā As antipartĆ­culas foram previstas por Paul Dirac em 1928 enquanto ele desenvolvia uma versĆ£o relativĆ­stica da teoria quĆ¢ntica do elĆ©tron. Esta previsĆ£o foi confirmada em 1932 por Carl Anderson, que descobriu o pósitron em experimento conhecido como ā€œcĆ¢mara de nuvensā€. Desde entĆ£o surge a pergunta: ā€œOnde estĆ” toda a antimatĆ©ria do universo? Por que encontramos ela de maneira tĆ£o rara?ā€

Ā Ā  Ā O próprio Dirac percebeu isto e na aula em comemoração ao seu prĆŖmio Nobel disse: ā€œSe aceitarmos a visĆ£o de completa simetria entre cargas elĆ©tricas positivas e negativas em respeito Ć s leis fundamentais da natureza, nós devemos considerar um acidente que a Terra (e presumidamente o sistema solar inteiro), conter predominantemente elĆ©trons negativos e prótons positivos. Ɖ possĆ­vel que para algumas estrelas seja o contrĆ”rio, sendo essas estrelas constituĆ­das principalmente de pósitrons e prótons negativos. De fato, podemos ter metade das estrelas de cada tipo. Os dois tipos de estrelas teriam exatamente o mesmo espectro, e nĆ£o existiria uma maneira de distingui-las com os mĆ©todos astronĆ“micos atuais.ā€Ā¹


Atualmente, conseguimos medir a proporção entre matĆ©ria e antimatĆ©ria no universo, para cada antipartĆ­cula existem bilhƵes de partĆ­culas, sendo assim o universo predominantemente constituĆ­do de matĆ©ria. Mas a pergunta continua: ā€œPor que hĆ” um predomĆ­nio de matĆ©ria sobre antimatĆ©ria?ā€.

Um universo feito trocando todas as partĆ­culas por antipartĆ­culas seria praticamente igual, entĆ£o nĆ£o hĆ” motivo aparente para as partĆ­culas serem ā€œespeciaisā€. Ɖ mais interessante ainda pensar neste tópico quando consideramos que segundo a teoria do Big Bang, quantidades iguais de matĆ©ria e antimatĆ©ria foram criadas no inĆ­cio do universo.

Quando partĆ­culas e antipartĆ­culas se encontram acontece a chamada ā€œaniquilação de paresā€, isto Ć©, as partĆ­culas sĆ£o convertidas em radiação. Se quantidades iguais sĆ£o geradas no Big Bang, matĆ©ria e antimatĆ©ria deveriam quase que totalmente se aniquilar e o universo que conhecemos nĆ£o seria formado. O que aconteceu para permitir sua formação?

Este problema Ć© conhecido como ā€œAssimetria bariĆ“nica do universoā€, e busca explicar qual mecanismo tornou possĆ­vel o predomĆ­nio de matĆ©ria que permitiu a evolução do universo para este que conhecemos. Ainda Ć© um grande problema em aberto para a FĆ­sica e Cosmologia, sendo pesquisado por muitos cientistas, incluindo este que vos escreve. Quando serĆ” que resolveremos este mistĆ©rio? SerĆ” que a solução levarĆ” a perguntas mais fundamentais e difĆ­ceis de responder? Aguardemos cenas dos próximos capĆ­tulos!


¹ Tradução livre de: P.A.M. Dirac, Theory of electrons and positrons, Nobel lecture 1933. https://www.nobelprize.org/uploads/2018/06/dirac-lecture.pdf

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