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Breve histórico da criação da fundação Instituto de Física Teórica e do Instituto Principia
 

Introdução

Na década de 1950 a sociedade brasileira se industrializava e se urbanizava rapidamente, cada vez mais reconhecendo o papel da ciência e da educação como essenciais ao desenvolvimento então almejado. Mediante a iniciativa de particulares, surgiu a proposta de se criar uma nova entidade que se dedicaria a fortalecer a pesquisa em Ciência básica especificamente em Física Teórica e áreas correlatas. O idealizador desta iniciativa foi o Eng. José Hugo Leal Ferreira, o qual reuniu um grupo de personalidades para atingir tal objetivo. Havia poucas atividades desse tipo nas universidades brasileiras, as quais focavam sobretudo no ensino de graduação. A ideia dos instituidores era tão ambiciosa que pretendiam constituir como seu primeiro diretor científico o renomado Professor Werner Heisenberg, um dos criadores a mecânica quântica. Houve também uma busca no exterior de outros renomados físicos teóricos, inicialmente alemães e depois japoneses, para serem os primeiros diretores científicos da nova entidade. Surgia assim uma instituição inovadora, a Fundação Instituto de Física Teórica, com administração ágil e focada em ciência básica, com o objetivo específico de fazer contribuições originais em nível internacional, algo incomum em nosso País naquela época. O modelo científico dessa entidade foi o Instituto Max Planck de Göttingen, Alemanha, e o modelo legal foi de uma Fundação de direito privado sem finalidade lucrativa. A criação da entidade ocorreu em 1951 enquanto seu funcionamento iniciou em 1952 na sua sede, Rua Pamplona, 145, bairro da Bela Vista. Contava para isso com seu próprio quadro de pesquisadores e dispunha de “plena autonomia administrativa, financeira e cientifica”, conforme a escritura de sua criação. 

Pesquisa e Primeiros Diretores

Na época o Instituto Max Planck era dirigido pelo Professor Werner Heisenberg, um dos criadores da mecânica quântica. Uma vez que, por compromissos anteriormente assumidos não pudesse vir ao Brasil, ele enviou uma carta para o então representante dos instituidores da Fundação, o dr. Otto Luiz Ribeiro. Essa missiva recomendava seu colega e colaborador, o físico e filosofo alemão professor Carl Friedrich von Weizsäcker, o qual aceitou a incumbência e se tornou o primeiro Diretor Científico da Fundação IFT em 1952.  Ele trouxe como assistentes os cientistas Wilhelm Macke e Reinhard Oehme, ambos do Instituto Max Planck.

A Fundação contou desde o início, como parte do quadro de pesquisadores, com os brasileiros Paulo Leal Ferreira, Jorge Leal Ferreira e Paulo Sergio de Magalhaes Macedo, todos formados pela USP. Em 1954 vieram outros cientistas alemães como Gert Molière, da Universidade de Tübingen, que também foi Diretor Científico da Fundação, e seu assistente Hans Joos e Werner Güttinger, do Instituto de Tecnologia de Aachen, Alemanha. Com estes cientistas, a Fundação iniciou suas atividades e desenvolveu os seus primeiros trabalhos de pesquisa.

Em 1958, iniciou-se a fase dos cientistas japoneses, assumindo o cargo de Diretor Científico da Fundação o Professor Mituo Taketani, da Universidade de Rikkyo, Japão, que trouxe como assistente o físico Yasuhisa Katayama, da Universidade de Kyoto.

O professor Taketani, juntamente com Hideki Yukawa (prêmio Nobel de 1949), Shoichi Sakata e Sin-ItiroTomonaga (prêmio Nobel de 1965) eram os principais expoentes da Física Japonesa do pós-II guerra. Incentivados por Taketani a partir de 1958, o IFT, a Fundação iniciou a publicação do boletim “Informações entre físicos” que contou com a participação dos cientistas das mais variadas instituições de Física, nacionais e internacionais. Esse boletim deu origem à Revista Brasileira de Física, atual Brazilian Journal of Physics, editada no Instituto durante os seus primeiros dez anos. Dando continuidade ao trabalho de Taketani, em 1960 vieram para a Fundação IFT os físicos japoneses Tatuoki Myazima, da Universidade de Educação de Tóquio e seus assistentes, os professores Daisuke Itô, da Universidade de Hokkaido e Jun'ichi Osada, do Instituto de Tecnologia de Tóquio. Desta forma, a Fundação foi essencial para a relação entre Brasil e Japão na área da Física Teórica, uma história que ainda está para ser escrita (Leite 2014, 2015).

Após cerca de dez anos tendo como Diretores Científicos cientistas estrangeiros, a Fundação IFT já havia se consolidado como Instituição Cientifica de nível internacional. A partir de 1962, o professor Paulo Leal Ferreira passa a ser o primeiro físico brasileiro a ocupar o cargo de Diretor Científico da Fundação.

Pós-Graduação

Não havia inicialmente a intenção de se constituir um curso de pós-graduação na entidade. Contudo, na década de 1970, houve uma reconsideração dessa restrição devido ao reconhecimento da importância de se ter alunos estudando na Fundação, inclusive para promover as pesquisas em andamento. Foram então criados cursos precursores em nível de mestrado e de doutorado, todos gratuitos, com bolsas de órgãos públicos, principalmente CAPES, CNPq e FAPESP, abertos a estudantes de São Paulo e de outros estados do Brasil. Pelo reconhecimento da pesquisa realizada a Fundação a recebeu do CNPq título de “Centro de Excelência” e sua pós-graduação recebeu posteriormente da CAPES avaliação máxima “A”. Ainda na década de 1970, foram criadas outras áreas de pesquisa pois nenhuma entidade é estática, elas evoluem e ampliam o escopo de seus objetivos estatutários. O Estado de São Paulo fez uma dotação inicial para a instalação da Fundação, mas nunca contribuiu com dotações mensais ou qualquer outro tipo de subvenção. Houve repasses de agencias de fomento e entidades do setor publico e privado (além de doações de pessoas físicas): FAPESP, CNPq, CAPES, FINEP, Caixa Econômica Federal, MEC, Petrobras, Confederação das Indústrias de São Paulo, Jockey Club Paulista, e Companhia Antarctica Paulista. 

Convênio e criação do IFT/UNESP

Na década de 80, após enfrentar sucessivas dificuldades financeiras, tornou-se impraticável manter o corpo de pesquisadores e funcionários da Fundação. A FINEP, órgão federal que a apoiava, exigia a busca por outras fontes de recursos, especialmente através da monetização do patrimônio da Fundação. Houve várias negociações envolvendo a USP, UNESP e UNICAMP para resolver esse problema. No entanto, optou-se por manter a sede da Fundação em São Paulo, e as negociações com a USP não avançaram.

Em 1986, os professores da Fundação perceberam que poderiam continuar utilizando o mesmo espaço de trabalho na Rua Pamplona e, ao mesmo tempo, integrar um novo instituto proposto por eles: o Instituto de Física Teórica da UNESP. O Conselho Curador da Fundação concordou com essa iniciativa dos professores e propôs à UNESP a criação da nova instituição, formada pelos professores, funcionários e, posteriormente, pelos alunos da Fundação. Para unir os esforços, o Conselho Curador da entidade alterou o estatuto em 1987 para incluir membros do novo instituto, com a condição de que a Universidade criaria o IFT/UNESP, mantendo intacto o patrimônio da Fundação e sua independência. Através de um convênio firmado em 1987, a Fundação concordou em ceder gratuitamente seu espaço para o novo instituto, fornecendo salas, mobiliário e sua biblioteca. Em resumo, os professores rescindiram seus contratos com a Fundação e foram contratados pela Universidade, continuando suas atividades de pesquisa, ensino e orientação de alunos, utilizando seus respectivos espaços de trabalho na Rua Pamplona.

Em suma, na década de 80, a UNESP não tinha condições de criar um instituto com o perfil de um centro internacional de pesquisa em Física, nem recursos financeiros para custear um novo local para seu funcionamento em São Paulo. No entanto, ela podia arcar com os salários e dispunha de verba para custeio. As duas entidades se beneficiaram com o convênio celebrado em 1987, onde a Fundação continuou a cumprir seus objetivos estatutários por meio do instituto idealizado pelos professores para a Universidade, enquanto esta criou uma instituição voltada para a pesquisa entre suas unidades.

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Novos Horizontes
O Complexo Pamplona e o Instituto Principia

Em maio de 2009, após 22 anos de uso gratuito das instalações da Fundação, a Universidade transfere o IFT/UNESP para a sede definitiva em seu novo campus na Barra Funda. Num prédio de 4 andares com aproximadamente 3800 m2, o instituto pôde desenvolver melhor suas atividades, em vez dos 1900 m2 de que dispunha na Rua Pamplona, o que dificultava muito sua expansão com a criação de novos cursos e contratação de docentes. Naquele mesmo ano, no mês de setembro, a Fundação finaliza a negociação de seu patrimônio na Rua Pamplona firmando contrato com a empresa Brookfield Incorporações. Este empreendimento, concluído em 2017, permitiu pela primeira vez na história da Fundação, que ela dispusesse de recursos próprios com a renda de unidades comerciais, independentemente de quaisquer órgãos públicos.

 

Em retrospectiva, o projeto com a UNESP pode ser considerado um grande sucesso entre a iniciativa privada e uma entidade pública. A Universidade recebeu um dos melhores institutos do País, uma pós-graduação de excelência, e um local gratuito para seu funcionamento. Por sua vez, a Fundação cumpriu seus objetivos estatutários por meio do IFT/UNESP. A Universidade pôde finalmente, em 2009, oferecer um local permanente ao seu próprio instituto, na Barra Funda, enquanto a Fundação cria condições para ter sua própria independência financeira e cientifica numa nova sede, na Bela Vista, mediante a negociação de seu patrimônio.

 

O ano de 2009 foi o divisor de águas e isto requereu uma nova alteração estatutária a qual ampliou muito o escopo de atuação da Fundação. Ela também iniciou o desenvolvimento de um projeto original e inovador para sua nova sede, composta por um Centro de Pesquisa, um Casarão restaurado da década de 1930, e um edifício em forma de domo que futuramente funcionará como um Planetário Digital. Estas estruturas são complementadas por aproximadamente cinco lajes numa torre comercial para gerar a renda necessária a fim de garantir autonomia para as despesas básicas e investimentos em infraestrutura. Toda essa propriedade da Fundação encontra-se instalada no Condomínio Praça Pamplona e totaliza 6045 m2 de área privativa.

 

Em 2017, além de ter recebido sua área privativa, nesse mesmo ano a Fundação passa a atuar em todas as áreas acadêmicas e de extensão como Instituto Principia. Portanto a Fundação é uma entidade que funciona indissoluvelmente como um Instituto o qual abriga ensino, pesquisa e extensão em sua propriedade. Desta forma, o  Instituto Principia  carrega em sua totalidade o legado histórico de sete décadas que inclui célebres diretores científicos, constituindo-se no genuíno herdeiro dessa tradição. 

O Instituto Principia e o IFT/UNESP colaboram em projetos científicos e permanecem, como sempre foram, entidades totalmente distintas, atuando em endereços separados desde 2009. Mais recentemente, o Instituto tem organizado, juntamente com o ICTP/SAIFR, eventos científicos de excelência com pesquisadores e alunos do Brasil e exterior.

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